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  • Foto do escritorRodrigo Andrade

Por trás das lentes: a vida de um fotógrafo com deficiência visual

Atualizado: 4 de jul. de 2022



Antonio Walter Barbero, de 40 anos, é conhecido como Teco Barbero e atua como jornalista, fotógrafo e marketing em geral, na cidade de Sorocaba, interior de São Paulo.


Essa poderia ser uma história comum, exceto por uma condição que mudaria a vida de Teco para sempre: ter uma deficiência visual desde nascença.


"(A deficiência visual) É congênita, tive também uma grave lesão cerebral, que foi detectada logo que nasci, mas a deficiencia visual demorou um tempinho para ser percebida. Minha mae viu que eu nao olhava direito para ela e como a minha tia era pediatra, já chamou atenção dela para conversar com médicos para ver o que era. Fazendo os exames viram que era um caso raro chamado de persistência de vitreo primário, onde existem pequenas obstruções e cicatrizes na retina, que prejudicam a qualidade da visão", relata.


Com obstáculos desde pequeno, familiares de Teco chegaram a pensar até que ele perderia totalmente a visão, mas não foi o que aconteceu. Ele consegue enxergar melhor com um dos olhos, de perto, apesar dos médicos relatarem que ele possui apenas 0,05% da visão.


Quando a família, enfim, ficasse ciente do que havia com Teco, as buscas para um tratamento começaram e encontraram um tratamento longe de casa.


"Minha família, quando soube das deficiências, foi procurar se informar numa época que a internet não existia. A informação vinha muito picada de muitos livros e dos médicos. Meus pais procuraram sempre fazer o que era possível e de melhor. Quando descobriram o tratamento chamado lendoma, que trabalha o desenvolvimento do potencial humano, no Rio de Janeiro, foram atrás porque sabiam que eu tinha condições de ter uma vida melhor, trabalhado dessa forma. Toda a familia se envolveu, ajudando como podia, e então começamos esse trabalho. Quando entendi as minhas condições, eu ja estava fazendo esse tratamento", diz Teco.



Mesmo com as dificuldades impostas pela sociedade e cultura do país, de promover pouca ou quase nenhuma acessibilidade a qualquer pessoa que não seja "padrão" aos olhos dos poderosos, Teco conseguiu superar as adversidades já na infância, mesmo com todas as crianças questionando as razões por qual Teco tinha que tomar cuidado ao realizar algumas ações, como correr, por exemplo.


"Foi um desenvolvimento muito natural, porque a minha condição era aquela e eu nao conhecia outras coisas. Aí fui ficando mais velho e entendendo as diferenças, na escola conheci outras crianças sem deficiências e vieram as perguntas, de como eu não poderia fazer alguma coisa, do porque eu tenho que tomar cuidado para correr. Graças a deus nunca tive muita dificuldade para fazer amizades e isso ajudou muito para que eu pudesse ter uma infância normal, talvez não fazendo tudo o que os outros faziam, mas dentro do que era possível eu fiz."


Mesmo com esse cuidado para correr, Teco tinha um sonho muito comum para crianças do Brasil: ser jogador de futebol. Por ter gosto pelo esporte, Teco sempre foi questionado sobre algum jogo em específico que era transmitido na televisão. Ele, então, por gostar do assunto, comentava com colegas desde pequeno e era algo que teve afinidade ainda garoto.


O primeiro contato com a fotografia surgiu em 1997, quando o pai dele pediu para que Teco registrasse um momento em uma viagem, pois ele ainda não tinha saído em nenhuma foto.


Quatro anos mais tarde, Teco conheceu a disciplina de fotojornalismo, e foi aí que a relação de amor com a máquina fotográfica começou. Ele também quis ser cantor por ter afinidade com a música italiana e com a área administrativa, mas a vida o levou mesmo para a área da comunicação.


Teco conta que a situação no trabalho é um pouco mais tranquila, por se tratar de um campus universitário, mas ele admite que precisa se adaptar mais com o entendimento de como funcionam as atividades dentro da faculdade. O fato de conhecer o seu material e local de trabalho do centro universitário não são coisas que atrapalham o dia a dia do fotógrafo.


"No trabalho tive pouca dificuldade porque o campus é bem grande e aí temos que entender como ele funciona. Usamos a tecnologia para olhar o numero da sala de aula, por exemplo. Então são dessas formas que vamos nos adaptando, e tem as pessoas que também precisam se adaptar com a gente. Tive boas amizades mas o mercado de trabalho ainda é dificil, relacionamento é dificil, são coisas que a sociedade precisa melhorar e ai não depende de mim, são coisas que precisam ser melhoradas num contexto geral. Na cidade eu acho mais dificil porque não consigo pegar ônibus, comida também sinto dificuldade porque não chego perto de fogão", afirma.



"Conciliar a deficiência visual com a profissão não é fácil. Me adaptei bem com um tablet, então participo de reuniões pelo zoom, ouço podcasts pelo celular, e dentro do campus eu conheço bem. Na fotografia é a mesma coisa. A câmera que tenho eu conheço bem, quando vou em algum evento peço para alguem do evento me acompanhar, aconselhar aonde posso ficar, onde devo me posicionar, e tudo isso tenho que pensar para não correr riscos e não atrapalhar o trabalho alheio. Basicamente temos que pensar muito antes de fazer qualquer ação e tentar prever qualquer ação para não errar."


"Se vou conhecer o lugar, tenho que saber onde posso fotografar, pontos que não são legais de tirar foto, ou circulação de outras pessoas, de ficar na frente das câmeras e coisas nesse sentido. Se tem alguém para descrever o lugar ajuda bastante, se não eu vejo como posso. Sempre converso com as pessoas para fotografar, pergunto as características, e vou somando as informações para adaptar às condições."


O jornalista revela que lidar com a clientela de eventos é bastante complicado, pois, sempre que há algum trabalho externo, é preciso ter algum patrocínio para a locomoção dele até o local e realizar a cobertura de eventos, palestras, eventos publicitários e ações que envolvem a inclusão dentro da área de marketing e publicidade.


"Pensar em desistir? Muitas vezes. Mas é por conta do mercado, por conta desse preconceito que ainda existe, pela falta de oportunidades, mas nunca por falta de vontade. Sempre que aparece um trabalho, é sempre muito animador, muito bacana. Agora, ficar muito tempo sem aparecer um trabalho nessas áreas, eu fico muito incomodado. Sei que é um momento complicado e não temos nenhuma previsão de conseguir trabalho, e a cidade de Sorocaba é difícil de fazer as coisas por aqui, porque geralmente faço serviços em São Paulo, mas aí envolvem os custos para ir pra lá. Mas ainda quero persistir, quero tentar ver se consigo trabalhar só com isso. Seria um sonho. Infelizmente hoje ainda não dá, mas a gente procura, né, buscar oportunidades para continuar levando a fotografia, os conceitos inclusivos, pra todo mundo. Seja pro mercado de trabalho ou ações sociais", diz.


Teco ainda acredita que o fato de buscar contribuir para um mundo mais inclusivo é um dos fatores que o impulsiona a não desistir e seguir na área da comunicação, enfrentando todas as dificuldades existentes na área e no atual momento que o país enfrenta.


"O que me move é essa vontade de ajudar, ou pelo menos fazer a minha parte pro mundo mais inclusivo, pro mundo de mais oportunidades, ter a chance de mostrar pra quem precisa, pensar diferente e poder gerar oportunidades. A chance de mostrar pra esse público que as pessoas com deficiências podem fazer de tudo. E podem ser contratadas para trabalhar e responsabilidades. O meu modo de fazer isso é ajudando outras pessoas com deficiência mostrarem o que são por meio da fotografia."


"Não que seja o único meio, mas podendo usar a arte a seu favor, sensibilizar o empresariado por meio da arte e das provas práticas, mostrando o que as pessoas podem fazer. Me move o gosto pela fotografia, minha vontade de mostrar como enxergo o mundo ao meu redor, das inúmeras formas, com fotografias, palestras, na área jornalística. E tentar fazer a minha parte, pra isso preciso ser mais conhecido e cada oportunidade dessa me move mais um pouco."


O jornalista ainda deixa um recado para pessoas que têm deficiência visual e querem ingressar no ramo da fotografia: "primeiro pensem que a fotografia é um meio de inclusão, de mostrar a arte da fotografia do jeito que vocês compreendem o mundo a volta de vocês. Porque aí você não fica tão pressionado. Depois, aprendam a usar os outros sentido que temos, já que não temos a visão, para fotografar. Existem várias técnicas e vocês podem desenvolver técnicas pessoais, oq ue faz parte pq cada pessoa tem uma sensibilidade, uma percepção do que está a volta, e percepção corporal mesmo, que vai ajudar a dar o sentido para onde vocÊ quer apontar a camera, e sentir aquilo que você quer fotografar."


"Não ligar no começo que as fotos talvez não saiam do jeito que vocês querem e com o tempo isso vai melhorando e assim, a tecnologia tá aí, é muito mais facil, porque vocês podem errar, podem fazer outra foto. Não se preocupem com a pressão que vier dos outros, o importante é gostar do que está fazendo, se divertir com isso e aí sim, usar como mais uma maneira de vocês se incluirem dentro da sociedade. Comecem em casa, fotografando festas de aniversário, encontros de família e depois vai o gosto de cada um. O mais importante é trazer a fotografia pra parte da sua vida e ser feliz com isso. Acompanho vários fotografos assim como eu, existem vários exemplos, e se inspirem."


"Nós temos que buscar nosso espaço, estar disposto a procurar aquilo que a gente quer fazer em qualquer área. Aquilo que a gente tem aptidão pra fazer e nos dá prazer, e fazer de tudo pra que a sociedade reconheça nosso direito a pelo menos tentar. O que a gente precisa hoje, mais do que tudo, é oportunidade no mundo. A gente precisa que o mundo nos dê igualdade de oportunidades, igualdade de condições. Seja com tecnologia, com outros tipos de adaptação, e aí sim, ser justo a posição que a gente se contra dentro da sociedade. Enquanto o mundo ainda tiver com uma sociedade fechada, que não acredita na pessoa com deficiencia, que acha que ela nao tem condições de fazer nada, a gente vai continuar dessa mesma forma. Sonho com o mundo de mais oportunidade pra todos," conclui.


Teco é formado em jornalismo e trabalha com o setor de marketing de um centro universitário, realizando apoio em eventos, fotografias, montagem de kits publicitários, onbudsman e analista de podcasts.


Fora do centro acadêmico, ele trabalha com fotografia, ministra cursos de fotografia para pesssoas com e sem deficiência visual e realiza palestras contando a história de vida dele com a fotografia, além de palestras motivacionais e apresentação de programas nos canal Galera Mix, no YouTube.


Para conferir mais notícias, informações e trabalhos de Teco, confira o site: https://tecobarbero.blogspot.com/

Veja algumas fotos tiradas pelo jornalista:








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