Débora Pessoa de Melo, de 40 anos é professora de francês e secretária do Instituto Dorcas, em Dacar, no Senegal. Mas essa história começou há 7 anos, quando ela e o marido – Carlinhos Senegal – se mudaram para o país homônimo de seu esposo.
“Começamos a servir as pessoas, conviver com elas. Não queríamos começar nada muito consolidado ou definitivo, porque sentíamos era necessário entender as pessoas, falar a língua, compreender e ver tudo, para que pudéssemos desenvolver algo que realmente atendesse as necessidades do povo. Então não queríamos começar da nossa própria cabeça, mas sim, voltado para uma necessidade daqui."
"Depois de 2 anos, em 2016, reunimos informações suficientes envolvendo o ensino técnico de informática, que era muito necessário aqui, principalmente focado em formação de jovens, que são uma grande massa de desempregados e subempregados. Foi dessa forma que começou, oferecendo essa formação que dura 1 ano, a preços populares em Dakar, capital do Senegal”, diz.
E pensando ainda em contribuir com a população local, foi que Débora e Carlinhos decidiram ampliar ainda mais os benefícios do Instituto Dorcas.
“Desde 2017 decidimos ampliar as atividades, construímos uma escola em uma cidadezinha chamada Thiadiaye que quando ficar concluída 100%, vai ter capacidade para 400 crianças”, revela Débora.
Essa cidade conta com uma população de aproximadamente 13 mil habitantes, e muitos dos quais moram em aldeias sem acesso a recursos como saneamento básico, energia elétrica ou escolas.
“Então estamos ampliando nossa atuação para o ensino infantil. Está em construção, na fase de acabamento, na verdade, e em outubro devemos abrir para o ano letivo que é quando iniciam as aulas em Senegal”, complementa a professora, secretária e uma das idealizadoras do Instituto.
Apesar de serem líderes em conjunto do Instituto, Débora e Carlinhos tem atitudes que se complementam, tanto como casal, como dupla no trabalho.
“Com certeza quem tem mais impulso de começar coisas é meu esposo. Ele tem mesmo esse ímpeto e é um abridor de caminhos. Eu sou menos impulsiva, focada nos detalhes, então juntos vamos dando o ritmo ideal. Não tão rápido quanto ele gostaria e nem tão rápido quanto eu gostaria. Vamos trabalhando dessa forma e vamos chegando a um ponto de equilíbrio. Somos uma boa dupla”, afirma.
Ela conta também, que, o objetivo do Instituto Dorcas, é acima de tudo servir ao próximo, seguindo os princípios da religião a qual ela segue.
“Nosso objetivo é servir às pessoas. Somos cristãos, então acreditamos que servindo ao próximo estamos servindo a Deus", conta.
"E a forma que decidimos fazer isso foi através da educação, mudando vidas, trazendo às pessoas novas perspectivas e ajudando elas a sonhar. Não gosto de dizer que ajudamos, mas sim, cooperamos, porque não é uma via de mão única"
Ensinamos, damos, recebemos, aprendemos, influenciamos e somos influenciados. Tem sido muito interessante fazer parte desse processo para aprender e rever processos, conceitos. Muitas vezes somos confrontados em coisas que achamos ser consolidadas na nossa vida", diz.
O nome do Instituto, inclusive, também tem origem cristã: Dorcas, uma personagem bíblica.
"A nossa inspiração vem de uma mulher chamada Dorcas, do livro de Atos, 9, e a bíblia diz que ela é uma mulher que fazia o bem. Quando ela faleceu, as pessoas que ela beneficiava ficaram tão tristes que pediram a Pedro para ressuscitá-la. E a vida dela era tão relevante e Pedro foi lá e atendeu o pedido dessas pessoas para que ela pudesse continuar fazendo o bem. Acreditamos que não existe nada mais sublime que olhar o próximo com amor, com misericórdia, se colocar no lugar dele, servi-lo.", afirma.
Na escola, além de oferecer aulas a preços populares, Débora conta que o Instituto também tem bolsas de 50% para mulheres, com a intenção de reduzir a desigualdade de gênero dentro da área de T.I. na região.
"E não somente as moças, mas qualquer outro jovem que manifeste em fazer o curso e não tenha condições financeiras, nós entramos num acordo com eles para fornecer bolsas."
"Como temos condição de oferecer bolsas? Eu faço parte do projeto dando aulas de francês para estrangeiros, cobrando um preço compatível com a média de mercado de um bom curso de francês e tudo que eu recebo dando aulas é destinado ao caixa do Instituto, que financia bolsas de estudo para jovens menos favorecidos", conta.
O projeto também conta com ajuda de pessoas físicas e jurídicas que contribuem como conseguem, participando de uma rede de solidariedade, fazendo com que o Instituto se mantenha aberto e ajudando a população local.
O Instituto Dorcas já ajudou mais de 150 pessoas com as aulas de informática e a projeção é de que mais de 400 famílias sejam ajudadas com a abertura da escola, em outubro.
E com o tamanho da estrutura é normal pensarmos que existem muitas pessoas tocando e comandando, não é mesmo? Porém, a realidade dentro do Instituto é que Débora e Carlinhos atualmente trabalham com apenas mais uma pessoa. O jovem Mbaye Diouf, de 23 anos, ex-aluno e agora tesoureiro e professor de informática para outras crianças.
Débora revela ainda que o retorno envolvendo o instituto é muito significativo para ela.
"O feedback é o melhor possível. Os alunos sempre dão retorno quando conseguem trabalho. Outras pessoas convidam a gente para o casamento porque conseguiram empregos dignos e formaram uma família, pessoas que estão comendo melhor porque têm um emprego melhor. E sempre é muito legal ver. Temos muito orgulho dessas pessoas, e sabemos que eles tiveram que dar muito duro. Eles enfrentaram as adversidades e é legal ver essas mesmas pessoas agarrando as oportunidades e fazendo o melhor possível. É o melhor feedback que podemos ter."
Para o futuro, o desejo é de que assim como Mbaye, outros jovens senegaleses participem e cresçam com o projeto, auxiliando mais jovens e liderando de forma positiva o instituto.
"Uma liderança saudável, antenada no futuro, conectada com as melhores práticas de gestão e amorosa. Ao mesmo tempo ancorada nas tradições do povo e que esteja disposta a preservar essas tradições e que eles possam tocar o projeto, que seja algo duradouro, algo pra ficar e que siga por muitos e muitos anos fazendo a diferença para as pessoas daqui", finaliza.
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