“Globalizando”. Esse é o nome de uma organização que há dois anos reúne mentores voluntários e vem ensinando idiomas de maneira mais acessível e gratuita para toda a população que é desprivilegiada socioeconomicamente.
O “Glob”, como é chamado, também ensina essas pessoas sobre temas de diversidade cultural, através dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e da Organização das Nações Unidas (ONU).
As aulas são promovidas em ambiente online e, além disso, também ocorrem dinâmicas que promovem um maior aprendizado dos jovens. O grupo, inclusive, recebeu medalha de ouro no Prêmio Prudential Espirito Comunitário 2020.
Felipi Alisson de Sousa é co-fundador do projeto e atual diretor do Programa de Embaixadores, desenvolvido pela Glob, e conta qual o objetivo da iniciativa.
“Democratizar o ensino de idiomas para brasileiros de baixa renda e democratizar o conhecimento acerca dos objetivos de desenvolvimento sustentável para ter um futuro cada vez mais justo e pacífico, atingindo aqueles objetivos da agenda 2030 da ONU”, explica.
Os idiomas oferecidos incluem italiano, japonês, inglês, francês, espanhol e coreano, mas varia muito conforme o interesse do público.
“Os idiomas que nós ensinamos no globalizando estão relacionados muito à oferta e demanda. Então se temos muito interesse de estudantes, de mentorados, que querem estudar Libras, a gente tenta colocar Libras no nosso currículo, isso durante o processo seletivo”, diz Felipi.
Em 2019, no primeiro ciclo do projeto, 90 mentorados participaram online e 20 presencialmente, contando com uma equipe de mais de 15 pessoas e 65 mentores voluntários.
Najla Karen Ribeiro da Silva tem 16 anos e é coordenadora de comunicação no time de admissões e assessoria de imprensa no time de marketing da Glob. Ela conta que conheceu a organização 10 meses atrás, através de um grupo de estudos online.
“Fui mentora de inglês no ciclo 2020.2, depois fui admission officer para o ciclo 2021.1 e então entrei nos times de Admissões e Marketing, onde sigo até hoje. Como eu tinha 15 anos quando fui mentora, não me impressionou que os meus mentorados fossem mais velhos que eu. Dei aulas para o Vinícius, de 17 anos e a Jaqueline, de 27”, conta.
Ela conta que se sente orgulhosa em fazer parte de uma organização como a Glob, que ajuda centenas de pessoas ao redor do país.
“Nós temos a oportunidade não só de ensinar, mas também de criar vínculos muito fortes com nossos mentorados, é realmente uma amizade. Amor e orgulho são as primeiras palavras que vêm à mente quando penso no Glob. Vejo a comunidade como uma família, onde nós nos importamos uns com os outros, cuidamos como se estivéssemos perto e interagimos como se nos conhecêssemos há anos. É extremamente gratificante acompanhar o crescimento dos mentorados, saber que faço parte disso e que todos dentro da comunidade estão ali por amor”, diz.
Atualmente, o Globalizando conta com 232 mentores que acolhem mais de 680 mentorados. Além disso, também conta com uma equipe de 70 voluntários em outros departamentos como marketing, coordenação, entre outros.
“Ano passado mais de 1000 pessoas da comunidade e todas as regiões brasileiras foram atendidas. Já tivemos mentores de outros países, mas reconhecemos que para ensinar uma outra língua para um brasileiro é necessário que saiba o básico do português, porque a maioria das pessoas que aplicam para ser mentorados iniciam do zero”, diz Felipi.
Os mentores e mentorados da iniciativa são de vários lugares do Brasil e do mundo, e outras iniciativas também são promovidas pelo Glob como o “GlobMun”, que contou com pessoas de lugares como Bangladesh, França e países da Americana Latina.
“Em iniciativa de simulação diplomática tivemos parceria com delegação latino-americana, foi online. Os feedbacks de quem já participou de projetos da Glob são sempre positivos, nosso lema é “Seja um cidadão global”.”
O morador de Cuiabá Luka Faccini Zanon, de 18 anos, conseguiu ser aprovado em uma faculdade nos Estados Unidos após receber mentorias de inglês pelo Glob.
“Eu passei no Dartmouth College, e um dos componentes que precisava para a admissão era a prova Toefl, que dá certificado falando qual o nível de inglês. Eu sabia um pouco, mas no projeto eu me preparei para a prova com alguém que já tinha feito”, diz.
Ele ficou em torno de seis meses estudando com o mentor Lucas Alves, que também foi aprovado em uma faculdade nos Estados Unidos.
“O Glob me ajudou muito. É uma prova muito difícil, nunca imaginei que conseguiria. Sempre tive esse sonho de poder estudar em uma universidade muito boa, não era pela experiência de estar nos Estados Unidos, mas se tornou um sonho ir pra lá. Meu mentor também já era um aluno de uma universidade em Columbia em Nova York, eu pude ter todo esse contato.”
“Além de acabar virando um grande amigo meu, ele me deu uma nova perspectiva de que era possível. Antes disso era muito desanimador, eu por ser de uma família de baixa renda nunca achei q seria uma possibilidade, mas ele estava ali comigo me motivando, e se com ele foi possível então por que não seria comigo?”, afirma.
O curso que ele vai fazer só será escolhido no segundo ano de faculdade, mas ele afirma que já tem uma ideia do que quer estudar.
“Pretendo estudar é linguística e educação. Isso q me fez querer ir pra lá, por que sempre me sentia muito perdido, porque aqui no Brasil só posso escolher uma coisa e é isso, lá a gente só escolhe no segundo ano.”
Luka afirma também que se tornou um dos primeiros estudantes do estado em que mora a passar no Dartmouth College. Ele realizou todo o processo de admissão de maneira online e pretende ir para os Estados Unidos em agosto.
“Eu não conheço ninguém daqui que já passou, tem vários que conseguem passar, mas não conseguem bolsa, mas agora vejo que outras pessoas da minha escola estão participando do Glob para tentar também, tem umas 4 ou 5 pessoas participando, fico muito feliz”, afirma.
Felipi conta que não imaginava que o projeto tomaria tamanha proporção pois, quando começou em 2019, tinha apenas 17 anos e era o mais velho da equipe.
“A gente não imaginava que o projeto ficaria tão grande assim, eram jovens de 15, 14 que se reuniram em grupos do whatsapp e tomaram iniciativa, que se aliaram com o propósito de mudar a sua realidade. Algo muito digno, muito válido, é um choque sempre. Hoje tem mais de dois mil seguidores, o número de inscritos sempre ultrapassa mil, mas é muito gratificante tocar a vida de tantas pessoas”, conta.
“O Globalizando tem como objetivo democratizar o ensino de idiomas, mas seu impacto na vida de cada membro vai muito além disso”, completa Najla.
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