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  • Foto do escritorNicole Annunciato

“Mudinho? Não, meu nome é Edinho, porr*”

Atualizado: 4 de jul. de 2022



Edinho poesia. Assim gosta de ser chamado e faz questão de ressaltar isso quando é apelidado de “mudinho”. Edvaldo Carmo dos Santos transmite uma história de quem foi muito além das barreiras para alcançar um sonho.


Surdo de nascença, Edinho cresceu em São Paulo junto com outros três irmãos ouvintes, e foi na poesia feita na Língua Brasileira de Sinais (Libras) que encontrou uma forma de se expressar.


“Tinha dificuldade na comunicação, me via como inferior. Aos 13 anos queria fazer poesia. Já sofri, pois muita gente não tem respeito e me chama pelo apelido “mudinho”. Acho muito chato, sinto que chamar de mudinho é inferior, nunca me perguntam meu nome.”


Admirado pelas obras da escritora brasileira “Conceição Evaristo”, Edinho entrou de cabeça na poesia lendo diversos livros sobre o tema, inclusive teve como inspiração para o trabalho dele vários poetas, sendo ouvintes e surdos.


Palavra por palavra, Edinho foi construindo seu espaço no meio da arte para poder, hoje, dizer com muito orgulho que ama ser poeta.





“Foi um grande desafio. Foi muito bom aprender como fazer disso [a poesia] uma ferramenta de comunicação e ganhar espaço. Me ensinou muito na minha vida, precisava mostrar essa referência para a comunidade de surdos”, diz.


Porém, em todo caminho há pedras e, no caso dele, não foi diferente. O preconceito e discriminação por ser surdo e negro no Brasil foi um grande desafio, e continua sendo diariamente.


Resistência é a palavra certa para definir Edinho que faz da força dele a arte, e transmite para todos que querem interpretar.


“Toda vez a polícia me para porque sou negro e surdo. Sofro muito preconceito, mas eu mostro que eu incomodo esse mundo e vou fazer outro mundo se incomodar também”, ressalta.

O poeta participou de várias competições de poesia. Inclusive, em 2017, esteve Campeonato Estadual de Poesia Falada “Slam SP”, sendo classificado entre os melhores poetas de São Paulo para o Slam Brasil.


Essa história ele faz questão de contar com muito orgulho, por ter sido um marco para a vida do artista. Dessa forma, Edvaldo divulgou para o Abelha Expressa um trecho de um poema dele, chamada “mudinho”:


Quando eu era pequeno me diziam ‘mudinho, mudinho, mudinho’;

Eu adolescente, no pré pulei corda, joguei video-game, bafo-bafo, e eles ‘Mudinho, mudinho, mudinho’;

Eu cresci, me encontrei, e eles ‘mudinho, mudinho, mudinho’;

Me casei, encontrei minha metade, tive um filho e eles ‘mudinho, mudinho, mudinho’;

Me cansei, me curvei, envelheci e eles ‘mudinho’;

Mudinho? Não, meu nome é Edinho, porra!”.





Em meio aos aplausos, Edvaldo ressalta que o retorno do público é importante para dar visibilidade às pessoas surdas.


“Para mim, a sensação de poder expressar a arte através de libras é importante para mostrar o sentimento, a beleza. Ninguém conhece a história da poesia. Quero muito transformar isso, ser surdo e ser poesia também.”


A importância de entender a dificuldade do próximo é algo que o poeta sempre tenta ressaltar, seja nas poesias ou em uma conversa, como a que tivemos. Afinal, a busca pelo conhecimento é uma necessidade básica do ser humano, mesmo que muitos não tenham interesse em aprender.


“Ninguém sabe libras. Você sabe libras para poder conversar comigo?”, questionou.




A história do poeta não termina aqui. Pensando na fala de Edinho, nós do Abelha Expressa, não só como jornalistas mas como seres humanos, nos sensibilizamos e divulgamos um curso online de libras oferecido pela Universidade de São Paulo (USP) para que todos possam aprender um pouco mais sobre como transmitir empatia com o próximo.


Afinal, se não houvesse narração no vídeo divulgado pelo Edinho e o trecho da poesia nessa história contada por nós, o texto ficaria com um enorme espaço em branco para muitos. É necessário saber interpretar.

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