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  • Foto do escritorRodrigo Andrade

'Luta pela Vida': A história de superação de quem contrariou as estatísticas

Atualizado: 4 de jul. de 2022





“Quando eu era criança, fiz varias cirurgias. Em uma dessas, minha mãe ficou sabendo que a chance de eu sobreviver era pouca. Médicos diziam que eu estaria em estado vegetativo.”


Quem conhece o morador de Itapetininga (SP) Lucas Carlos Corrêa, de 23 anos, sabe que essa não é a realidade vivida por ele. Após se identificar e começar a praticar a arte marcial coreana “hapkido”, especializada em defesa pessoal, ele se tornou um exemplo de superação para as pessoas.


Lucas tem hidrocefalia e mielomeningocele, uma doença onde a pessoa nasce com uma má formação na coluna vertebral. Com isso, Lucas sempre teve dificuldades para andar, e até hoje conta com a ajuda de muletas para se locomover.


A situação é diferente porque Lucas conheceu o hapkido com 13 anos, graças a um colega da igreja e ao apoio das irmãs que levaram ele para o treino. Lucas revelou à reportagem do Abelha Expressa que começou a praticar o esporte para melhorar o condicionamento físico, uma das inseguranças dele.


“Entrei com o objetivo de melhorar meu condicionamento físico, basicamente. No começo era bom, porém, por alguns defeitos acabei não querendo ir, porque achei que não conseguiria me adaptar”.


“O hapkido me ajudou e ajuda em três pilares da minha vida: minha autoestima, autoconfiança e socialização”.




O mestre de hapkido da cidade, Marcos Silvério, revelou ao Abelha Expressa que Lucas tinha muitas dificuldades nos treinamentos. E não eram apenas físicas, mas também psicológicas.


“Quando ele começou a treinar ele não tinha estabilidade, não tinha condição motora e muscular. Tinha fraqueza no corpo, não tinha equilíbrio e tinha também muita dificuldade de coordenação motora. Além disso, tinha um problema psicológico que acompanhava ele. Ele era um menino muito traumatizado, tinha medo e vergonha de tudo. A autoestima dele não existia e era muito complexada”


“Lá fui extremamente bem recebido pelo mestre. Fiz uma primeira aula e decidi voltar mais vezes. Todos foram muito atenciosos e me ajudaram para caramba”, conta Lucas.


O hapkidoca revelou também que na época da escola sofria muito bullyng, recebendo ofensas que prejudicaram sua autoestima.





“Tive problemas com a autoestima, porque eu tinha vergonha de ser quem eu era. Não gostava de sair na rua”, lembra.


“Na escola era outra pegada. Eu não tinha confiança nem de sair sozinho de casa, mas nunca pensei em desistir, porque eu tive bastante apoio, dentro da academia e da família também. O fato de me acolherem extremamente bem foi um ato de solidariedade. Não consigo explicar.”


O mestre de Lucas contou que sabia das condições do garoto quando ele chegou e resolveu trabalhar para ajudar ele com esses problemas;

“Eu queria trabalhar bem a parte psicológica dele, trabalhar bem autoestima, a condição dele e a relação dele com os outros, esse foi o principal fator que eu trabalhei com ele”.


Marcos revelou que a ideia era ajudar não só o condicionamento físico mas também a questão social do aluno. Em pouco tempo, esse retorno começou a aparecer.


“Ensinamos ele a interagir com as crianças, trabalhar em equipe, melhorar essa condição dele e essa aceitação de quem ele é. Em pouco tempo a gente começou a ter uma resposta boa. Ele vinha da casa dele aqui praticamente carregado pelas irmãs. Comecei a cobrar e fui mostrando que ele era capaz. Cobrava sério e severo, mas sabendo a condição dele. Cada coisa dentro da sua etapa. Ele começou a se virar sozinho, começar a ter independência, do ponto de não precisar depender dos outros, que é o que eu queria”.


Lucas teve no mestre Marcos a inspiração para continuar lutando dentro e fora do tatame. Aprendeu que podia superar todos os problemas, e com o hapkido isso se tornou mais fácil.


Faixa preta


Dessa forma, o menino que mal conseguia sair de casa sozinho aos 13 anos, hoje é instrutor de hapkido e também é faixa preta na modalidade, além de ter conquistado alguns torneios.


“A primeira vez que ganhei um campeonato, nunca passou pela minha cabeça. Meu objetivo era primeiramente a condição física, sequer pensava em ser faixa preta. No exame, estava com um misto de nervosismo e confiança, e consegui passar de primeira.“





Segundo Marcos, as técnicas de Lucas são perfeitas e ele foi um dos alunos mais aplicados da academia. Ele contou que na academia foi o Lucas quem ajudou os outros atletas, porque quando existe a convivência com pessoas diferentes do que estamos acostumados, quem aprende somos nós.


E para Marcos, “com certeza Lucas é um exemplo clássico de superação. Ele passou a ter amigos tanto aqui na academia, quanto fora. Começou a sair, passear, coisa que ele nunca teve na vida. Chegou até a ir em um evento grande na cidade”.


Lucas atualmente dá aula em um grupo de treinos, onde já teve de 15 a 20 alunos, e também ofereceu os ensinamentos em uma instituição para crianças, que acabou encerrando as atividades.


Agora instrutor, Lucas diz que sempre busca melhorar, e que, comparado ao começo, ele mudou bastante. Se encontrasse alguém nas mesmas condições que ele tinha, Lucas afirma que não pensaria duas vezes “Daria todo o apoio possível e tentaria ajudar ao máximo para a pessoa chegar onde eu cheguei."

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