14 de agosto de 1972. Para muitos, uma data qualquer, mas não era para a família de Ana Cristina de Melo Pinho, de 49 anos.
Nessa data, surgia a Elizart Livros, uma livraria localizada no Rio de Janeiro, sob o comando de Manoel Mattos de Pinho - avô de Ana, com os filhos, florescendo uma paixão que passa de geração em geração e que começou antes mesmo da livraria ser aberta.
Ao portal Abelha Expressa, Ana conta que o avô e os tios já participavam da feira dos livros em praças do Rio de Janeiro, quando o avô de Ana resolveu ter um espaço apenas da família para alocar e revender os livros.
“Meu avô era um visionário. Sempre achou que os livros usados teriam um mercado promissor. Passou a comprar livros de ponta de estoque das editoras e a comprar de terceiros nas suas casas, e aí formou um grande estoque de livros. Com isso surgiu a necessidade de um espaço para guardar os livros adquiridos e de vendê-los à pessoas que passavam pela rua”, revela Ana.
A Elizart Livros está desde a fundação no mesmo endereço: Avenida Marechal Floriano, 63. O tio de Ana, Manoel Filho, que também trabalhou na livraria, adorava os escritos e foi com ele e com o pai que Ana se apaixonou pela literatura.
Avós de Ana no aniversário de 30 anos da Elizart
“Meu pai respirava a livraria 24h por dia e nós aprendemos a gostar e a trabalhar com livros desde cedo. Comecei a trabalhar na Elizart nos anos 90, saía da faculdade e ia para lá. Sempre gostei de ler e esse universo dos livros pegou de jeito a família”, admite.
Com o passar dos anos, Manoel e os filhos foram deixando a Elizart sob o comando dos mais novos, fazendo com que Ana e Arthur, irmão dela, tocassem a livraria até os dias atuais, se aliando a tecnologia para superar crises no mercado de livros. Os irmãos contam ainda com a ajuda de um funcionário.
“Meu irmão Arthur trabalha na loja desde novinho e juntos estamos conseguindo sobreviver a várias crises do nosso setor, da nossa cidade e agora da pandemia”, conta Ana.
Apesar de respirar a Elizart, Ana conta que isso não estava nos planos da família e surgiu de forma natural.
A família foi conquistando a clientela e nomes como Paulinho da Viola, Nei Lopes, Ruy Castro e Heloísa Seixas eram algumas dos frequentadores da livraria. Paulinho, inclusive, gravou na Elizart, uma parte do documentário sobre a vida dele.
“Muitos clientes conhecidos frequentavam a livraria sempre, agora não mais com tanta frequência. Sempre apareciam com frequência na loja. Uma turma boa que sempre aparecia para bater papo e renovar seus estoques de livros”, diz.
“Ao longo desses 48 anos de vida, a livraria acumulou algumas histórias legais e engraçadas. A mais legal foi, sem dúvida, a gravação do documentário do Paulinho da Viola! Todos aparecemos na gravação, ficamos super lisonjeados pela lembrança e de quebra o diretor apareceu na loja também!”
“Uma história engraçada que nós rimos até hoje, foi a de um funcionário da loja - que não trabalha mais lá, atendendo um cliente que pediu pra ver “São Paulo”, aí ele respondeu que precisava pegar o ônibus para a rodoviária, e então ele iria pra São Paulo. Aí o cliente rindo virou para ele e disse que queria a seção de livros sobre São Paulo”, conta Ana, que é uma das sócias da livraria.
Com a internet, muitas pessoas abdicaram de comprar livros e isso prejudicou fortemente a economia de diversas livrarias, que até fecharam em grandes centros comerciais.
Para Ana, a inspiração para seguir neste ramo é o simples fato de “entrar” nas histórias que ali são repassadas e contar com pessoas que também acreditam e apreciam uma boa leitura.
“O que nos move a continuar nesse ramo é a surpresa do dia a dia, achar um livro perdido no tempo e valorizá-lo, lidar com um público que ainda acredita que ler é o melhor caminho para o futuro”
Com o surgimento de lojas virtuais a Elizart também começou a comercializar pela internet, o que ajuda muito na atual renda da livraria.
“A estante virtual apareceu na nossa vida há uns 10 anos mais ou menos e veio para revolucionar a nossa área que estava estagnada e passou a ser de extrema importância nas vendas”, revela.
“Passamos a vender para todo o país e adquirimos muitos clientes novos através do site, e desde que começou a pandemia, a estante foi o que nos salvou. Ficamos fechados durante 4 meses, sem renda alguma e o site foi o que nos manteve com o nariz fora d’água”, admite.
Apesar das dificuldades com a tecnologia, Ana conta que a interação nas redes sociais também ajuda, por conta do acervo estar 90% catalogado, e que a chance de encontrar uma outra pessoa apaixonada por livros, de forma virtual, é ainda maior pela proximidade que a tecnologia proporcionou, principalmente durante a pandemia de coronavírus.
“Passamos a interagir mais com o público através das redes sociais. Ainda estamos engatinhando nessa área, mas estamos conseguindo conquistar um público ávido e interessante, que adora novidades”, completa.
A Elizart, de 48 anos, funciona de segunda à sexta-feira, das 11h às 18h – horário estipulado pela prefeitura por conta da pandemia, na avenida Marechal Floriano, 63, no Rio de Janeiro.
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