Foto: Divulgação/Pedro Andrew
Para quem acompanha alguma modalidade esportiva pelas grandes mídias, é comum pensar que todos os atletas têm vida fácil em meio a tantas competições, premiações e reconhecimento.
Jessica Giacomelli, de 21 anos, é um exemplo de que nem tudo que se vê na internet é fácil como parece. A atleta paralímpica nasceu com mielomeningocele, que é uma má formação na coluna que também afeta alguns membros do corpo.
Com isso, a jovem de Itapetininga, no interior paulista, fica impossibilitada de mexer uma das pernas. Na infância, Jessica sofreu muito pela falta de conhecimento das pessoas a respeito da doença.
Vídeo: Arquivo pessoal/Jessica Giacomelli
“Sofro desde que nasci, mas não vejo como preconceito, e sim falta de informação. Teve várias situações durante viagens que eu não poderia embarcar. por conta da muleta, fica complicado. Nenhuma creche queria me aceitar, mesmo particulares", conta.
Jessica não sabia, mas o fato de continuar frequentando a escola iria mudar de vez a vida dela. Foi lá que ela conheceu a Eunice Lima, uma professora de Educação Física que ajudou nas preparações para competir nas corridas de cadeira de rodas.
“[Eunice] ficou comigo dois anos, me ajudou na primeira etapa de uma competição com deficientes físicos, e fui pegando gosto pela coisa. Ela aposentou e continuou me treinando. Na primeira competição que participei, me emprestaram uma cadeira e acabei ganhando uma medalha ao término da corrida”, revela.
“Para mim o esporte foi um “divisor de águas”, tanto em parte escolar como familiar. Fui criada com várias limitações porque minha mãe era muito protetora, então eu só ia da casa para escola e era raro conversar, até com a professora. Mas meu padrasto começou a dar mais possibilidades para a minha mãe, e conseguiu convencê-la a me incentivar. Minha mãe não queria deixar eu ir para a minha primeira competição, hoje eu que ligo para ela quando vou viajar”, afirma Jessica.
Com a primeira medalha conquistada, a paratleta não parou mais. Desde os 12 anos até hoje, ela conta com uma coleção de prêmios, totalizando cerca de 180.
“A competição mais marcante foi para a Suíça em 2019. Bati o recorde dos 100 metros que não era quebrado desde 2016, e depois disso só fui melhorando.”
Foto: Arquivo pessoal/Jessica Giacomelli
Jessica revelou ao Abelha Expressa que hoje em dia também se inspira nos atletas brasileiros da categoria por conhecer as dificuldades que encontraram na trajetória. As duas figuras principais para a motivação da atleta são os também corredores em cadeiras de rodas, Aline Rocha e Parré, que acolheram ela na seleção brasileira.
A atleta, que treina em busca de uma vaga para as Paralimpíadas de Tóquio, conta que participar do ciclo olímpico tem suas dificuldades, principalmente no Brasil.
“É muito difícil treinar nesse ciclo olímpico no Brasil, principalmente por questões financeiras. A manutenção da cadeira é bem cara, e tivemos situações que tivemos que nos desdobrar para arrumar as coisas. Minha família sempre me apoia, assim como a Eunice. Já ficamos três, quatro dias fazendo bolinho para vender”, revela.
Jessica e as outras atletas paralímpicas que disputam a única vaga do Brasil na categoria, precisam atingir o índice com o tempo mínimo da prova, ou então conquistar a vaga através do ranking mundial.
Foto: Arquivo pessoal/Jessica Giacomelli
Por conta da pandemia de coronavírus, o Comitê Olímpico Internacional (COI), decidiu adiar todas as competições a nível de seleções em 2020. Com isso, Jessica, que estava treinando com a seleção brasileira, precisou adaptar os treinamentos dentro de um condomínio fechado para não perder o rendimento físico até o início de 2021, quando retomam as competições no Brasil e no exterior.
“Estamos de mãos atadas e temos que esperar voltar. Nos Estados Unidos estão fazendo campeonato para os atletas de lá. Na Europa começaram as maratonas, mas são provas bem restritas, precisando levar vários documentos alegando imunidade a doença, e precisando ficar em quarentena antes de embarcar e chegando lá”, conta.
Cercada dos mais diversos prêmios na modalidade, Jéssica conta que jamais imaginaria que poderia atingir esse nível. Mas afirma também que jamais vai esquecer de quem a ajudou desde o inicio da carreira.
“A principal motivação que tive e tenho é minha técnica Eunice. Me treinou sem cobrar nada, muitas vezes tirou dinheiro do próprio bolso para equipamentos e campeonatos. Nunca esperei chegar aonde cheguei hoje, porque não tinha em quem me espelhar. Não via possibilidade de futuro no esporte olímpico, mas isso mudou”, diz.
Foto: Arquivo Pessoal/Jessica Giacomelli
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